Um Vulto no Quintal

No início dos anos 90, minha família alugou um casarão de dois andares na Rua Jacobina, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. A dona do imóvel, que era amiga da minha avó, contou que a residência estava desocupada há muito tempo. Firmado o contrato, fizemos a mudança. Eu passava as tardes depois do colégio na casa. Um dia, enquanto via TV, comecei a ouvir passos na escada de madeira. Pensei que fosse minha avó, mas lembrei que ela estava no terraço. Olhei pelos arredores e continuei a ver TV. O barulho de passos subindo e descendo continuou e eu fiquei encolhido de medo no sofá, sem coragem para me virar. Dias depois, vi o aparelho de TV desligar e se ligar sozinho duas vezes.
Às vezes eu via vultos disformes no quintal e me escondia com medo. Um dia, estava sozinho com a moça que fazia a limpeza. Enquanto brincava no batente da porta da cozinha nos fundos da casa, vi ao lado da mangueira do quintal um homem de paletó cinza e chapéu preto. Imediatamente dei um grito chamei pela moça. Quando virei a cabeça, o homem tinha evaporado. A moça não acreditou, falou que era coisa de criança. Até o dia em que ela limpava a cozinha e viu o tal homem de chapéu. Nervosa, juntou as coisas e pediu demissão.
Passados alguns meses, minha família resolveu deixar o casarão. Após nos mudarmos, o imóvel foi demolido para a construção de um prédio. Alguns anos depois, minha avó reencontrou a ex-dona do casarão e perguntou se ela havia presenciado as coisas estranhas que ocorriam por lá. A dona disse que sim. Ouvira passos e objetos se quebrando, observara vultos. Perguntou se minha avó tinha visto um homem de paletó cinza e chapéu preto. Vovó disse que não, mas que o neto e a diarista tinham visto. A proprietária sorriu e disse que era o antigo dono daqueles terrenos.
Relato do leitor Alexis Morell