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Foto do escritorO Recife Assombrado

Boca-de-Ouro, o boêmio das noites


Ele apavora os homens que caminham sozinhos de madrugada, depois de uma noite de farra.


É um ser misterioso que, sob as vestes de boêmio, esconde um misto de zumbi e demônio. Gilberto Freyre cita, no livro “Assombrações do Recife Velho”, que essa visagem não era exclusiva do Recife, tendo também sido registrada em outras cidades do Brasil. É uma assombração cujas primeiras aparições datam do início do século XX. Nas horas mortas, o Boca-de-Ouro é visto ao longe, caminhando lentamente e fumando um cigarro. Veste sempre um paletó branco, sapatos bem engraxados e usa chapéu tipo “Panamá” – uma figura que lembra o “Zé Pilintra”, entidade cultuada pela Umbanda.


Ele aborda caminhantes solitários que vagam pelas ruas desertas e sempre pede fogo a esses desavisados – gente que sai de festa ou de barezinhos da moda do Bairro do Recife, por exemplo. Tendo ou não fósforo (ou isqueiro) para oferecer, a vítima toma um grande susto quando percebe que boêmio misterioso tem a cara carcomida de um cadáver apodrecido e exala um forte cheiro de enxofre.


Quando a pessoa sai correndo, o zumbi solta uma tenebrosa gargalhada e exibe sua bocarra cheia de dentes de ouro. E não adianta fugir: quando a vítima chega às carreiras à outra esquina (ou encruzilhada), o malassombro está lá, soltando outra risada medonha. Esse pesadelo se repete, esquina após esquina, ao longo de toda a rota de fuga, até que o coitado caia desfalecido pelo pânico e pela exaustão.

Na amanhã seguinte, é encontrado desmaiado na calçada. Socorrido pelos passantes, conta como foi seu insólito encontro com o Boca-de-Ouro. Claro que quase ninguém acredita e o sujeito é avaliado como pinguço ou mesmo como doido.


Ao que parece, o Boca-de-Ouro prefere atormentar homens que buscam aventuras ou estão simplesmente perdidos na noite. Nunca é visto por um grupo amigos ou um casal a caminhar pelas ruas num passeio noturno.


Talvez seja alma penada de um malandro que cometeu todos os pecados da boemia; namorou muitas mulheres, apostou todo dinheiro em jogos de azar e bebeu além da conta. Ou talvez seja a encarnação de um espírito maligno, que tanto fascina com seu figurino impecável e seus dentes de ouro, quanto provoca repulsa com sua face pútrida de defunto insepulto.


Contado por Roberto Beltrão


Ilustrações: Fábio Rafael

Foto: Lucas Evaristo (contatos: facebook.com/lucas.evari; Instagram: @l_evaristo; luc.albuq.evaristo@gmail.com)

Ator: Niil Martins


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