Ela fala feito gente e come criancinhas.

Esta curiosa assombração é uma herança dos nossos ancestrais portugueses. Os mais velhos ainda garantem que ela existe. Trata-se uma cabra que, à primeira vista, parecer comum, mas que tem o terrível hábito de almoçar criancinhas. Conta-se que a Cabra Cabriola vive nos campos, dando saltos e pinotes – cabriolando, como se diz no interior. À noite transforma-se em monstro e pode ser reconhecida se observados alguns pormenores: ela tem dentes afiadíssimos – incomuns num caprino – e costuma lançar fogo pelas narinas e pela boca.
Apesar do comportamento bestial, o monstro usa a inteligência para chegar aos seus macabros objetivos. Usa de vários ardis para entrar nas casas quando os adultos estão fora, como, por exemplo, imitar a voz suave das mães do garotos, pedido-lhes, com toda a gentileza, que abram porta. Quando os pequenos caem na armadilha, viram o jantar do bicho infernal. Dizem que quanto mais desobediente for o pirralho mais chances tem virar refeição da Cabra Cabriola. Mas os filhos apenas desatentos também podem se tornar refeição para a criatura.
No livro “Folk-lore Pernambucano” (publicado pela primeira vez em 1908), o historiador Pereira da Costa conta a história da mulher que saiu para trabalhar e alertou os três filhos pequenos que se trancassem e só abrissem a porta ao ouvir a voz dela. Logo veio a Cabra Cabriola e, com sua voz grossa, pediu para entrar dizendo ser a mãe dos meninos. Eles perceberam a diferença e repeliram a macabra visitante. Mas a ardilosa assombração foi até um ferreiro e pediu que língua dela fosse batida numa bigorna. O artifício fez a voz do monstro ficar igual à da mãe. A cabra maldita conseguiu enganar os pequenos e entrar na casa para devorá-los.
Contado por Roberto Beltrão / Ilustrações: Fábio Rafael
Conheça outras assombrações:
Comments