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O Fantasma de Duas "Casas"

Foto do escritor: Lucas RigaudLucas Rigaud

Segundo relatos, o espírito de importante figura histórica assombra dois lugares famosos do Recife



Escreveu o sociólogo Gilberto Freyre, no seu clássico livro Assombrações do Recife Velho, que alguns casarões e monumentos históricos da Capital Pernambucana estão tomadas por espíritos cujo a relação com determinados locais é forte, transcendendo a vida e a morte.


De fato, todo recifense que dispõe do conhecimento das lendas urbanas locais sabe que a cidade está repleta de lugares assombrados por uma, ou mais entidades. Mas, um caso chama atenção por se tratar de um mesmo fantasma que, supostamente, faz suas temidas aparições em dois imóveis diferentes da cidade: trata-se do espírito de ninguém menos que Frei Caneca, que assombra o Arquivo Público de Pernambuco e o Forte das Cinco Pontas, nos bairros de Santo Antônio e São José, respectivamente.


Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, mais conhecido como Frei Caneca, foi um líder religioso de fundamental importância para as revoluções ocorridas em Pernambuco contra o Império. Em 1817, chegou a participar da Revolução Pernambucana, quando, juntamente com Padre Roma, Domingos José Martins, entre outros, preparou um levante para o dia 8 de abril de 1817. Antes disso, no dia 4 de março, o Governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, ficou sabendo da situação e mandou prender os principais implicados.


Após os acontecimentos de 1817, Frei Caneca foi solto em 1821 e, em 25 de dezembro de 1823, começou a publicar no jornal fundado por ele, o Tífis Pernambucano, ideias revolucionárias para a Confederação do Equador: “Quem bebe da minha caneca tem sede de Liberdade”, dizia Caneca.



O MALASSOMBRO NA ANTIGA CADEIA DO RECIFE


Arquivo Público de Pernambuco. Foto: Recife Em Cliques

Frei Caneca foi preso novamente em 1824, na Cadeia do Recife, prédio de 1731, localizado no número 371 da atual Rua do Imperador, onde também funcionou a Casa da Câmera. Lá, o religioso foi julgado e condenado à forca, pena esta que, mais tarde, seria mudada para arcabuzamento, já que e 3 carrascos teriam se recusado a executar o religioso.


O prédio da antiga Cadeia do Recife, que desde 1945 comporta o Arquivo Público de Pernambuco, guarda muito mais que documentos históricos e memórias entre suas paredes. Lá existem mistérios que até mesmo a ciência encontra dificuldades para poder explicar.


Acontecimentos insólitos, como aparições de vultos, espectros que repentinamente aparecem como também somem em um piscar de olhos e sons fantasmagóricos já foram relatados no local histórico. Há quem diga que o fantasma de Frei Caneca é uma das assombrações que rondam o Arquivo Público, ainda esperando por justiça.


A jornalista Sandra Correia escreveu, em outubro de 1992, uma reportagem especial relatando as experiências sobrenaturais registradas pelos funcionários do Arquivo Público Estadual, para o jornal Diário de Pernambuco. Na matéria, a bibliotecária da casa, Marli Rangel, contou sobre seu encontro com o suposto fantasma do mártir pernambucano. Ela estava na seção de periódicos quando viu um homem de preto, sorrindo para ela. Resolveu descer para saber de quem se tratava e constatou que não havia ninguém. “Quase morri do coração”.


Tempos depois, Marli viu uma fotografia em um livro e reconheceu Frei Caneca na figura “muito simpática” que teria encontrado. “Não sou a única a ver almas por aqui”, destacou a funcionária.


Ainda na reportagem de Sandra Correia, o segurança do Arquivo Público, Francisco de Assis Ferreira, lembrou de uma noite em que ele teve de ir ao banheiro do local buscar um balde de água, quando enxergou um vulto, percebendo depois que se tratava de um homem negro acorrentado.


Foto: Recife Em Cliques

Espíritos de prisioneiros que ainda esperam por justiça são comuns em lugares que já abrigaram cadeias. Frei Caneca ainda deve vagar pelos corredores do Arquivo Público, exibindo seu sorriso simpático, tal como descreveu Marli, esperando que alguém o compreenda.



O DESTINO DE FREI CANECA NO FORTE


Construído durante o domínio holandês no Recife, em 1630, a mando de 1630, por ordem de Frederik Hendrik (Príncipe de Orange), o Forte de São Tiago das Cinco Pontas foi tomado pelos portugueses a partir de 1654 e, por muito tempo, serviu de prisão para prisioneiros de guerra e inimigos do Império.


Frei Caneca foi levado ao Forte das Cinco Pontas, onde passou seus últimos dias de vida e, em 13 de janeiro de 1825, passou pelo tradicional túnel da morte da edificação, que dá acesso ao muro onde ele foi arcabuzado, trajeto este que era comum para todos os prisioneiros que eram condenados à forca ou fuzilamento.


O muro, contra qual o religioso foi executado, permanece de pé até os dias de hoje, servindo agora como um memorial para o líder da Confederação do Equador. O local, que carrega uma história de injustiça e morte, é sombrio para os mais sensitivos, assim como os arredores do Forte das Cinco Pontas e até dentro da fortaleza. Funcionários, seguranças e turistas destacam que não é só Frei Caneca que assombra o local, mas também espectros de soldados, que foram mortos nas intensas batalhas travadas no local, e os prisioneiros dos desumanos cárceres subterrâneos que lá haviam, denominados de “cemitérios vivos”.

Memorial de Frei Caneca. Imagem retirada do vídeo "Fantasmas do Forte" (O Recife Assombrado)

“Quem passa a vida que eu passo,

Não deve a morte temer;

Com a morte não se assusta

Quem está sempre a morrer.”



ONDE FREI CANECA FOI SEPULTADO?


O local de descanso eterno de Frei Caneca é um verdadeiro mistério. Após sua execução, o corpo do líder foi levado, dentro de um caixão de pinho em um convento do Recife. Acredita-se que tenha sido no Convento do Carmo, em um local não indicado.


Há também a hipótese de Frei Caneca ter sido sepultado sob o solo da Igreja de Nossa Senhora do Terço, no bairro de São José, próximo ao Forte das Cinco Pontas. Suas vestes religiosas estariam enterradas no tempo, em um local indicado por uma placa de mármore, quando o líder teve que deixar a condição de religioso. Suas roupas de frei foram retiradas e o sentenciado foi entregue “à justiça dos homens”.


Igreja de Nossa Senhora do Terço. Foto: Recife Em Cliques

Em 2017, um grupo de arqueólogos tentou encontrar as vestes de Frei Caneca e os possíveis restos mortais do revolucionário, num trabalho de escavação do piso, mas não apresentou resultados.


Será que o simpático fantasma do herói das duas maiores revoluções de Pernambuco também assombra os supostos lugares de seu descanso eterno?

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