Conheça as histórias estranhas por trás das comemorações de fim de ano
Que o Natal é uma das datas mais puras do calendário Cristão, todos sabem. Mas o que é de pouco conhecimento geral é que algumas tradições praticadas no dia do nascimento de Cristo, ao redor do planeta, têm suas origens um tanto estranhas, e, até mesmo, assustadoras.
No Brasil, por outro lado, não temos muitas histórias assustadoras envolvendo o Natal. Mas, nós seguimos fielmente algumas tradições do estrangeiro que têm origens para lá de medonhas, além de também termos, em nosso folclore, um velhinho misterioso que conquista crianças com uma sacola igualmente enigmática.
Nesse especial de Natal d’O Recife Assombrado, vamos explorar um pouco o lado obscuro da “época mais linda do ano”.
A NOITE DOS ESPÍRITOS
A crença de que os espíritos passam a rondar o mundo dos vivos com maior frequência no dia 25 de dezembro vem do Festival de Yule, tradição do Norte da Europa celebrava o solstício de inverno. Entre os dias 21 de dezembro e 1º de janeiro, as almas dos que já se foram tinham um maior aceso ao nosso mundo pelo fato dessa época ser mais fria e escura.
Em Portugal, há uma tradição em que as famílias se reúnem para um banquete na manhã de Natal, chamado Consoda, em que se deixam lugares à mesa para os fantasmas de entes queridos participarem da refeição. Esse costume também é lembrado por algumas famílias brasileiras.
Uma das histórias de Natal mais famosas de todos os tempos também envolvem espíritos natalinos. Estamos falando de “Um Conto de Natal”, escrito Charles Dickens, em 1843, onde o avarento Sr. Ebenezer Scrooge é visitado por 3 espíritos natalinos.

Ilustração de "Um Conto de Natal", por John Leech.
CEIA DE NATAL
O costume de comer e beber bem no Natal também vêm de antes da data ter se tornado uma festa Cristã. No festival de Saturnália, comemorado pelos antigos romanos, as comemorações iniciavam no dia 17 de dezembro e durava cerca de uma semana.
Saturno, o deus celebrado no festival, era associado às colheitas. Os banquetes cheios de comida eram resultado da grande fartura daquela época do ano.

Porém, diferente das comemorações atuais, o Saturnália era um período em que os romanos deixavam de lado os valores morais. Além de Saturno ser também conhecido por devorar os próprios filhos e empunhar uma foice.
A ORIGEM DO BOM VELHINHO
Papai Noel virou uma das figuras mais icônicas do mundo, se tornando símbolo natalino em diversos países.
A história do Bom Velhinho provém de uma fusão de São Nicolau, que vivia na Ásia Menor em meados de 350 d.C., com figuras folclóricas europeias, como a lenda germânica do Kris Kringle, do século XIX. Nessa mesma época, a imagem do Papai Noel moderno apareceu pela primeira vez, vestindo um robe verde. Em 1931, a Coca-Cola atribuiu a lenda o visual vermelho que conhecemos até hoje.

David Harbour vive um Papai Noel violento no filme "Noite Infeliz".
No Brasil, o Papai Noel também se tornou uma figura popular. Porém, há quem ache estranho um senhor idoso observar seu comportamento ao longo do ano, invadir sua casa e colocar “presentes”, vindos de uma sacola misteriosa, embaixo da sua árvore de Natal. Chega a ser compreensível uma comparação entre o tal Bom Velhinho e o temido Velho do Saco, da nossa cultura popular. Pensem bem: é um homem de idade, misterioso, que porta um saco igualmente estranho nas costas e que, por alguma razão, chamar a atenção da criançada.
OS DEMÔNIOS DO NATAL
É claro que uma figura tão bondosa não iria deixar de ter uma versão inversa. Krampus, o demônio natalino mais famoso do folclore estrangeiro, é totalmente o oposto do Papai Noel. Conhecido por fazer o serviço sujo, como presentear crianças desobedientes ou pessoas de má índole com “presentes de grego”, ou até mesmo agredir com suas garras e chifres enormes, o antinoel adora acabar com a alegria das famílias, sendo retratado também como inimigo número 1 do Bom Velhinho. A palavra Krampus vem de “Krampen”, que, no alemão antigo, significa “garra”.

Krampus, o antinoel, causa transtornos para as famílias.
Outra criatura tenebrosa da época do Natal é o Belsnickel, popular na Alemanha e com origens no século XIX. Esse ser, com características de um velho mal-humorado, tem o costume de entregar guloseimas para crianças boas e chicotadas para as desobedientes. Antes disso, também na Alemanha, por volta do século XVII, surgiu a lenda do Knecht Ruprecht, um companheiro do Papai Noel que ia de casa em casa e pedindo às crianças que orassem. Se o fizessem, ele oferecia um presente (maçãs, nozes, etc.), do contrário, dava brindes inúteis (carvão, varas, etc.). O pior viria se eles se recusassem mesmo a tentar orar: a criatura iria levá-los dentro do seu saco cinza, que carregava só para isso. Seria mais uma inspiração para o nosso Velho do Saco?
Já na Islândia, existe a lenda dos Yule Lads, que são 13 criaturas que causam o caos de diferentes maneiras, como roubar leite e animais de fazendas ou apagar todas as luzes de um ambiente, deixando as crianças no escuro.
A Perchta, ou Frau Perchta, é uma bruxa natalina conhecida por ter duas faces: uma bondosa, que mostra para as crianças boazinhas, e outra maligna, que é exibida para as malvadas. No Dia de Reis (6 de janeiro), a Frau Perchta deixa moedas de prata nos sapatos das crianças que se comportaram. Já as desobedientes têm somente as barrigas abertas e os órgãos retirados para substituir por pedras e linha.

Uma das representações da Frau Perchta.
ÉPOCA DE USAR ROUPAS NOVAS
Você já deve ter ouvido falar da importância de usar roupas novas no Natal para, principalmente, aparecer bonito na foto da família. Mas, na Islândia, essa tradição pode salvar a sua vida.
O Jólakötturinn, também conhecido como Gato Yule, é um imenso felino monstruoso cujo a lenda foi usada para pressionar os trabalhadores e até as crianças a produzissem satisfatoriamente para ganhar roupas novas para o Natal. Os que fossem relaxados, não ganhariam roupas e ficariam com as velhas.

O Gato Yule/Yule Cat. Arte: thelegendcat.org
O detalhe é que o Gato Yule odeia roupas velhas e devora aqueles que estão mal vestidos.
O DIA DE REIS
Segundo a tradição Cristã, no Dia de Reis (6 de janeiro) se deve desmontar a árvore de Natal e retirar todos os enfeites relacionados à data.
Mas, há uma tradição inglesa que determina que você não pode simplesmente jogar fora os enfeites verdes, pois, se fizer isso, a morte chegará à sua casa antes do próximo Natal.
No nosso Recife, temos a tradicional Queima da Lapinha, que encerra o Ciclo Natalino.

A tradicional Queima da Lapinha. Foto: Prefeitura do Recife.
Trazida pelos jesuítas, no século XIX, a tradição tem seu simbolismo relacionado à manjedoura onde nasceu o Menino Jesus e ao dia em que ele foi visitado pelos Três Reis Magos. Feita de folhagens secas e incensos, a lapinha é queimada para consagrar o ciclo cultural que se encerra.
Contado por: Lucas Rigaud
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