Crítica de Lucas Rigaud
Nesta primeira recomendação de produções de terror que precisam ser conferidas pelos amantes do gênero que tanto nos inspira a criar novas histórias, falaremos de “Sorria” (Smile), horror psicológico dirigido por Parker Finn que se tornou um grande sucesso de bilheteria, em 2022. Confira:
Em “Sorria” (Smile), longa-metragem de estreia do cineasta Parker Finn, uma psicóloga (Sosie Bacon) passa a ser atormentada por uma entidade maligna após testemunhar o suicídio traumático de uma paciente que dizia estar sendo perseguida pelo mesmo ser misterioso. Para entender a procedência desse fenômeno assustador e tentar se livrar dele antes que seja tarde demais, a médica deve investigar o que aconteceu com as pessoas que sofreram com a mesma maldição antes dela e descobre fatos aterradores.
Tendo como base o seu premiado curta-metragem “Laura Hasn’t Slept” (2020), Parker Finn desenvolve com ainda mais inventividade o curioso projeto de apenas 11 minutos que deixou muitos expectadores de cabelos em pé e curiosos para saber detalhes adicionais da história dos sorrisos diabólicos, com o filme “Sorria” (Smile). O longa, que está longe de ser um mero projeto experimental – uma vez que o cineasta sabe muito bem que rumos tomar e o que explorar em tela -, dá continuidade a uma ideia que se espelha em filmes de terror envolvendo maldições (como “O Chamado”, “Corrente do Mal” e, até mesmo, o icônico “A Hora do Pesadelo”), contando também com elementos próprios que contribuem para um resultado criativo da obra, como simbolismos bem empregados, peripécias narrativas que brincam com o que está realmente acontecendo em tela, além de alusões interessantes ao medo e o trauma, contando com discussões que, mesmo não sendo sutis e até um tanto escancaradas ou repetitivas, conseguem ser didáticas e bem empregadas à trama.
O minucioso trabalho de direção de Finn consegue superar alguns deslizes do roteiro, também de sua autoria, com a criação de uma atmosfera cabulosa, capaz de prender o público até o final. A criatividade do diretor é proporcional à sua habilidade de conduzir um elenco de nomes mais jovens, mas de uma carreira promissora, como a atriz Sosie Bacon, que interpreta a protagonista Rose Cotter, cujo desempenho é destaque, já que a artista passa por um notável processo de transformação de personagem, além de conseguir passar todos os medos e aflições necessárias para a composição desta. Há também outro inegáveis talentos, como Kyle Gallner, Jessie T. Usher, os veteranos Robin Weigert e Kal Penn, além da participação especial de Caitlin Staycey, atriz principal do curta-metragem que deu origem ao filme, interpretando novamente a personagem Laura.
Claro que nem tudo são flores em Sorria. Por mais que a exploração de temáticas envolvendo os malefícios psicológicos do trauma seja louvável, falta um certo esmero na sensibilidade em tratar do assunto, uma vez que, para estender a metragem do longa e intensificar os típicos jump-scares (que não são poupados), há uma certa repetição de fenômenos. O desfecho do filme chega a ser tão rápido e apelativo para o fantasioso que não encontra uma solução plausível para todos os seus conflitos. Talvez, o fato de o roteiro apresentar grandes possibilidades e não organizar corretamente suas boas ideias, tenha gerado tal confusão na sua conclusão morna e com claros indícios haverá uma continuação (ou continuações).
Com um exímio trabalho de trilha sonora, que compõe o cenário amedrontador construído pelo longa, efeitos visuais práticos e em computação gráfica usados com excelência e bem equilibrados, além de contar com uma fotografia com tonalidades frias e planos mais fechados, o que intensifica no medo desenvolvido pelo público, Sorria é mais um grande exemplo de como o cinema de terror moderno está conseguindo se reinventar com ótimas produções, como: “Midsomar”, “X – A Marca da Morte”, “Noites Brutais”, entre outros.
De fato, essa nova era do terror é digna de botar um sorriso no rosto dos fãs do gênero (no bom sentido, é claro).
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