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Crítica | O Exorcista: O Devoto

Atualizado: 14 de out. de 2023

Sequência direta do clássico de 1973 não faz jus a obra original, configurando-se simplesmente como uma produção de terror genérica


Lidya Jewett e Olivia O'Neill em O Exorcista: O Devoto. Imagem: Universal Pictures

Por: Lucas Rigaud


Em O Exorcista: O Devoto (The Exorcist: Believer), o fotografo Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), que criou sozinha sua filha Angela (Lidya Jewett), começa a ter sua vida alterada quando garota e sua amiga Katherine (Olivia O'Neill) desaparecem na floresta e retornam três dias depois, sem memória do que aconteceu com elas. Tudo piora quando uma série de eventos aterrorizantes são desencadeados, obrigando Victor a pedir ajuda a Chris MacNeil (Ellen Burstyn), especialistas em exorcismos que já teve de lidar com a possessão da própria filha, Regan (Linda Blair), anos atrás.


A nova onda de reboots, revisitas e sequências, às vezes indesejáveis, de clássicos cinematográficos com franquias já estabelecidas, sendo alguns realizados com a curiosa desculpa de “apagar” o que foi feito de errado em continuações anteriores e, a partir disso, prosseguir com a obra original por meio de uma produção nova, que traz elementos, personagens e até atores do clássico. No gênero terror, temos, como maiores exemplos, a grata reinvenção da franquia Pânico, a lamentável sequência O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, o bem bolado Jogos Mortais X e a polêmica Trilogia Halloween, de David Gordon Green, nome esse que, corajosamente, aceitou realizar a nova trilogia que dará continuidade direta ao clássico O Exorcista, do saudoso William Friedkin. O Exorcista: O Devoto é mais um, talvez o mais esdrúxulo, exemplo de produção que não se compromete em reverenciar com respeito a obra original, sequer entregar um material inventivo ou fora do incômodo clichê.


Lançado em 1973, O Exorcista atraiu multidões para os cinemas, sendo, até os dias de hoje, uma das maiores referências do cinema de terror/horror de todos os tempos. Ousado, polêmico, ostentando um roteiro altamente trabalhado e uma direção comprometida em entregar um clássico imortal, o filme, em seu aniversário de 50 anos, poderia ter sido presenteado com sequência a altura, ou, obviamente, mais simples, porém condizente com a obra, além de respeitosa. O Exorcista: O Devoto, reúne tudo o que há de banal em produções do gênero, desprovidas de inspiração ou uma identidade própria, ou até mesmo que remetesse ao clássico de William Friedkin. David Gordon Green se demonstrou eficiente na condução violenta da trilogia Halloween, que exigia um terror mais físico e brutal. Mas, inserir essas particularidades narrativas próprias de uma temática totalmente oposta de O Exorcista, que requer um pavor psicológico genuíno - capaz de amedrontar com ideias e imagens aterradoras bem empregadas à trama -, em O Devoto destoa drasticamente da ideia de ser uma sequência direta do original.


Imagem: Universal Pictures

O roteiro, adaptado pelo próprio Gordon Green, Peter Sattler, Scott Teems e Danny McBride não se preocupa em dar explicações sobre como a entidade se apossou das duas crianças nesta nova história, resumindo tudo em uma simples sessão espírita que deu errado, nem mesmo estabelecer uma ligação plausível entre ela e Chris MacNeil, resumindo tudo em apenas um reencontro ameaçador onde o demônio menciona várias vezes o nome de Regan para enfraquecer a personagem de Ellen Burstyn, que, infelizmente, nada acrescenta à trama a não ser um sentimentalismo piegas que, no final das contas, não faz sentido. Nem mesmo os nomes dos padres do primeiro filme, Merrin (Max Von Sydow) e Karras (Jason Miller) são mencionados em O Exorcista: O Devoto, como se fossem personagens irrelevantes dentro da franquia. Dentre os inúmeros personagens novos incluídos nesta sequência, os únicos que contam com uma história bem desenvolvida são: Victor, pai viúvo e descrente que se encontra numa batalha interna contra a própria fé, um bom personagem que poderia ter ainda mais forças caso o roteiro se preocupasse verdadeiramente com o filme, e a vizinha enfermeira Ann, que deixou a vida religiosa por ter engravidado e abortado, sendo uma personagem, apesar de tudo, forte o suficiente para enfrentar o mal.


É possível adquirir empatia somente pelos personagens dos ótimos Leslie Odom Jr. e Ann Dowd, respectivamente. O mesmo não pode ser dito dos demais, nem mesmo das protagonistas Angela e Katherine que, apesar de serem interpretadas pelos jovens e surpreendentes talentos de Lidya Jewett e Olívia O’Neil, não contam com uma história aprofundada. A inclusão de multiculturas e religiões para combater o demônio é fraca, escassa, não aproveitando a ideia, a princípio, interessante, além de, novamente, desperdiçar personagens em excesso.


A fotografia digital do longa não chega a incomodar a todo instante, mas impossibilita a criação de uma atmosfera mais aterradora, indo de encontro ao clichê visual de filmes de terror modernos, onde a penumbra prevalece. A trilha sonora, sempre presente, até em cenas que necessitavam de sua ausência para gerar uma melhor composição, ostenta o clássico tema do filme de 1973. Há momentos em que a edição de takes colabora com a construção de sequências assustadoras, com cortes rápidos e inclusões de imagens sobrepostas que conseguem gerar um arrepio na espinha do espectador.


O Exorcista: O Devoto já conta com uma sequência em andamento. Se o primeiro longa, que devia reverenciar a total magnificência do clássico de 1973, chegou a ser desrespeitoso com a obra original, é apavorante o que vem por aí nesta nova trilogia de David Gordon Green.


Nota: ⭐/2



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