
Identidade da criança enterrada no cemitério de Santo Amaro continua desconhecida após mais de 50 anos do assassinato.
“Graças Alcançadas da Menina Sem Nome”, são os dizeres em uma das inúmeras placas colocadas por devotos da Menina Sem Nome, uma das figuras mais emblemáticas, não somente do Cemitério de Santo Amaro, mas de toda a cidade do Recife. Não há algum interessado pelas histórias dos crimes que marcaram a cidade, ou até mesmo pelos casos e lendas sobrenaturais que classificam a capital pernambucana como uma das mais assombradas do Brasil, que não conheça o triste caso que envolve a garota anônima.
Afinal, quem era a garotinha que teve sua vida ceifada de forma brutal? Quem foi o assassino e qual seria o motivo do crime.
O CASO
No dia 23 de junho de 1970, o corpo de uma criança de aproximadamente 8 anos foi encontrado na Praia do Pina, Zona Sul do Recife, pelo vendedor de coco Arlindo José da Silva. A vítima, segundo os relatos da época, estava despida, com as mãos atadas e o rosto cravado na areia. Para completar a brutalidade do caso, havia uma outra corda em volta do pescoço da garota.
O caso logo repercutiu entre a população recifense e a mídia. As razões desse crime infame contra uma menor de idade eram desconhecidas, assim como a identidade da vítima.
Após encontrarem o cadáver da criança, o vendedor Arlindo José da Silva e seu empregado, o garoto Osvaldo Ulisses do Nascimento, de 11 anos, foram apontados como principais suspeitos do assassinato. Arlindo chegou a ser preso, após a polícia encontrar em sua casa, dois dias depois do crime, uma calça suja de sangue. O vendedor foi incriminado pelo depoimento do jovem Osvaldo, que afirmou tê-lo visto com cordas no dia anterior ao caso, e que ele teria lhe dito que “procurava uma mulher para passar a noite”.
Porém, a escassez de provas concretas e o aparecimento de um novo suspeito em potencial fizeram com que Arlindo fosse solto pelo menos uma semana depois do aparecimento do corpo da garota.
O SUSPEITO
Logo após a liberação de Arlindo, a Polícia prendeu, no dia 29 de junho, o mecânico Geraldo Magno de Oliveira, por ter confessado o assassinato da garota. Em seu depoimento, Geraldo informou que sempre via a menina perambular sozinha pelo bairro do Pina, e que ele teria lhe oferecido 5 cruzeiros para passar a noite com ele. Segundo o suspeito, após a criança o ter chamado de “vigarista” e “velhaco”, por não ter sido pago a quantia prometida, ele cometeu o assassinato. Ainda de acordo com o mecânico, ele se arrependia de ter cometido o crime e preferia morrer do que ficar conhecido como um assassino de uma menina. Em momento algum foi revelado o nome da vítima.
Porém, durante a sua primeira audiência na justiça, ainda em 1970, Geraldo negou tudo que havia confessado, alegando que ele não havia cometido o crime e, inclusive, que teria sido coagido e torturado pela polícia para assumir a responsabilidade do assassinato.
Para completar o mistério, Geraldo Magno foi morto no Presídio da Ilha de Itamaracá, pouco antes de ser julgado. Até hoje, não se tem conhecimento do verdadeiro assassino da Menina Sem Nome.

A CAUSA DA MORTE
Durante todos esses anos, a versão corrente foi de que a Menina Sem Nome havia sido violentada e jogada na areia da praia, já com as mãos amarradas. Na época, também foi estudada a possibilidade de afogamento.
O ofício de remoção de corpos número 891, de 1970, assinado pelo delegado Josenaldo Galvão, dá conta de que, na manhã do dia 23 de junho, foi encontrada na Praia do Pina uma garota de cor parda, aparentando 8 anos. Estava com as mãos amarradas por trás do corpo e com um laço no pescoço.
O laudo da necropsia realizado no corpo da menina apontou que ela não sofreu violência sexual, sequer morreu por afogamento, sendo constatado que a causa mortis teria sido asfixia por sufocação. Segundo o texto do perito Nivaldo Ribeiro, responsável pela assinatura do laudo, em 1970: “A asfixia foi produzida por meio misto, constrição incompleta do laço no pescoço e aspiração de grãos de areia”. Tudo indicava que a vítima teria sido amarrada e sufocada com o rosto na areia da praia do Pina.

A DEVOÇÃO À MENINA SEM NOME
A triste história da Menina Sem Nome fez com que a enigmática garota se tornasse um personagem famoso do Recife e seus casos sem explicação.
O corpo da garota ficou por duas semanas no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife. Durante todo esse tempo, nenhum parente ou conhecido apareceu para identificar o corpo. Dessa forma, um aval da Secretaria de Segurança Pública estabeleceu que a menina fosse enterrada como indigente no Cemitério de Santo Amaro, em 3 de julho de 1970. Mas um morador rico do Recife, comovido com o destino de sofrimento e abandono da pequena vítima, mandou colocar os restos mortais em um jazigo perpétuo.
Desde então, o túmulo da Menina Sem Nome passou a receber inúmeras visitas de moradores das redondezas que, tocados a trágica história, levavam flores e brinquedos para depositar no túmulo da garota.
Após alguns pessoas relatarem que o espírito da Menina estaria atendendo a pedidos como cura de doenças, proteção à família, emprego e casa própria, nasceu uma devoção à Menina Sem Nome – fenômeno religioso espontâneo que transformou a personagem misteriosa no que os sociólogos chamam de ” santa não canônica”.
Diariamente, o jazigo é visitado por fiéis que fazem promessas à Menina – muitos até depositam no mármore cartas escritas à mão com seus pedidos por milagres. E, em feriados como Dia das Crianças e Dia de Finados, centenas de devotos deixam flores, doces, brinquedos, miniaturas de casas e outros ex-votos no local de descanso eterno da garota cujo a identidade permanece um mistério.
Contado por Lucas Rigaud
Eu creio que tudo é verdade.Amem